terça-feira, 1 de abril de 2014

Olha eles de volta aí, gente...

Mais uma vez nos deparamos com questões sérias, com desmembramentos possíveis e terríveis, tratadas sem a devida importância. Cuidado, pode ser o estopim do que vem por aí.
Quando pesquisei ontem a marcha da família, ocorrida em diversos locais entre março e junho de 1964, e sendo esta um expoente importante  da deposição de Jango, achei que precisava de maiores informações. Afinal, tentava-se formar mais uma.
Em primeiro lugar a causa: Revisitando livros lidos há algum tempo, como – Os Militares no Poder – Carlos Castello Branco; 1964 – Paulo Francis e; O soldado absoluto – Wagner Willian – fui a um tempo que não vivi verdadeiramente, mas que então, conhecia. Li e entrei no ‘clima’ da época, quando milhares de pessoas se acotovelavam a 13 de março de 1964 na Central do Brasil, onde de um palanque o presidente bradava sobre as mudanças que estavam em curso e quais ainda viriam.
              Depois de falar em congelamento de aluguéis, de desapropriação de terras ‘as margens das rodovias, ferrovias e barragens, ( 10Km para cada lado ), ainda colocou que ‘reforma não se faz com romaria e terço’. Expropriou cinco refinarias que operavam então no Brasil e prometeu ainda reformas de base. Conseguiu desagradar quase  todas as classes realmente organizadas. Estava a descoberto o maior direito dos cidadãos. Àquilo que compraram com seu dinheiro, sejam bens móveis ou imóveis. Ladeado por Brizola, insuflaram os ânimos de uma platéia inculta  e cheia de necessidades prementes e desejos.
              Com a criação de um imposto sobre grandes fortunas, o que hoje é muito comum ao redor de todo o mundo, desagradou ao ricos; Com a desapropriação de terras, desagradou à classe média, latifundiários e até sitiantes; Conclamando sempre os oficiais subalternos, desagradou ao exército e ‘as polícias; Ao congelar os aluguéis, desagradou aos idosos e à igreja, além de falar em romarias; Ao expropriar as refinarias, desagradou os estrangeiros, seus donos e preocupou tantos outros, com fortunas investidas aqui.
E então a conseqüência : A s reformas propostas, durante a guerra fria, com a polarização do ideário, soaram comunistas.  Se juntaram então os insatisfeitos com as reformas, sob a bandeira da Marcha da Família com Deus pela Liberdade ,colocando em cheque o regime democrático. Sem base legal que pudesse sustentar uma tomada de poder, os militares foram impelidos,  em parte por grandes empresários, em parte por políticos de peso, a ocupar as ruas, conter rebeliões e instaurar uma forma de governo que devolvesse a estabilidade ao país. Lott fora vencido na eleição anterior e não estava mais na ativa. Tinha sido contra a promoção de Castelo Branco a general.
E o resultado: 21 anos de ditadura.
Uma marcha de mesmo nome, mas mirrada, saiu às ruas. As insatisfações também são latentes. Temos casos de compra do congresso, o mensalão, de obras financiadas em outros países sem a anuência do povo, de compra de refinarias a custo de prejuízos bilionários, roudo da propriedade intelectual da nossa medicina, a custo de trabalhadores em regime similar à escravidão, e muito mais.
Os tempos entretanto são outros, com uma sociedade de inclusão, onde mais têm hoje a perder; Uma igreja católica diminuída politicamente, políticos de oposição sem a grande expressão dos políticos do passado, comunicação instantânea, e-mail e redes sociais. Um exército enfraquecido sucateado e ultrapassado.
Resta saber o monstro que nasce desta nova barafúrdia, desta nova ordem social. Saber se é do bem ou do mal.

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