Mais uma vez nos deparamos com
questões sérias, com desmembramentos possíveis e terríveis, tratadas sem a
devida importância. Cuidado, pode ser o estopim do que vem por aí.
Quando pesquisei ontem a marcha
da família, ocorrida em diversos locais entre março e junho de 1964, e sendo
esta um expoente importante da deposição
de Jango, achei que precisava de maiores informações. Afinal, tentava-se formar
mais uma.
Em primeiro lugar a causa: Revisitando
livros lidos há algum tempo, como – Os Militares no Poder – Carlos Castello
Branco; 1964 – Paulo Francis e; O soldado absoluto – Wagner Willian – fui a um
tempo que não vivi verdadeiramente, mas que então, conhecia. Li e entrei no
‘clima’ da época, quando milhares de pessoas se acotovelavam a 13 de março de
1964 na Central do Brasil, onde de um palanque o presidente bradava sobre as
mudanças que estavam em curso e quais ainda viriam.
Depois de
falar em congelamento de aluguéis, de desapropriação de terras ‘as margens das
rodovias, ferrovias e barragens, ( 10Km para cada lado ), ainda colocou que ‘reforma
não se faz com romaria e terço’. Expropriou cinco refinarias que operavam então
no Brasil e prometeu ainda reformas de base. Conseguiu desagradar quase todas as classes realmente organizadas. Estava
a descoberto o maior direito dos cidadãos. Àquilo que compraram com seu
dinheiro, sejam bens móveis ou imóveis. Ladeado por Brizola, insuflaram os
ânimos de uma platéia inculta e cheia de
necessidades prementes e desejos.
Com a
criação de um imposto sobre grandes fortunas, o que hoje é muito comum ao redor
de todo o mundo, desagradou ao ricos; Com a desapropriação de terras,
desagradou à classe média, latifundiários e até sitiantes; Conclamando sempre
os oficiais subalternos, desagradou ao exército e ‘as polícias; Ao congelar os
aluguéis, desagradou aos idosos e à igreja, além de falar em romarias; Ao
expropriar as refinarias, desagradou os estrangeiros, seus donos e preocupou
tantos outros, com fortunas investidas aqui.
E então a conseqüência : A s
reformas propostas, durante a guerra fria, com a polarização do ideário, soaram
comunistas. Se juntaram então os
insatisfeitos com as reformas, sob a bandeira da Marcha da Família com Deus
pela Liberdade ,colocando em cheque o regime democrático. Sem base legal que
pudesse sustentar uma tomada de poder, os militares foram impelidos, em parte por grandes empresários, em parte por
políticos de peso, a ocupar as ruas, conter rebeliões e instaurar uma forma de
governo que devolvesse a estabilidade ao país. Lott fora vencido na eleição
anterior e não estava mais na ativa. Tinha sido contra a promoção de Castelo Branco
a general.
E o resultado: 21 anos de
ditadura.
Uma marcha de mesmo nome, mas
mirrada, saiu às ruas. As insatisfações também são latentes. Temos casos de
compra do congresso, o mensalão, de obras financiadas em outros países sem a
anuência do povo, de compra de refinarias a custo de prejuízos bilionários, roudo
da propriedade intelectual da nossa medicina, a custo de trabalhadores em
regime similar à escravidão, e muito mais.
Os tempos entretanto são outros,
com uma sociedade de inclusão, onde mais têm hoje a perder; Uma igreja católica
diminuída politicamente, políticos de oposição sem a grande expressão dos
políticos do passado, comunicação instantânea, e-mail e redes sociais. Um
exército enfraquecido sucateado e ultrapassado.
Resta saber o monstro que nasce
desta nova barafúrdia, desta nova ordem social. Saber se é do bem ou do mal.