terça-feira, 1 de abril de 2014

Bolsa Família

Falar no Bolsa-família deixa muita gente arrepiada. Só falar. Imagina tecer qualquer crítica. Não quero só criticar. Quero sobretudo entender. Procurei nos sites do governo, e encontrei um relatório importante e bem redigido, com informações sobre as famílias atendidas pelo programa e como ele foi estruturado. Abaixo estão os sites visitados. Algumas observações devem ser feitas, entretanto. Ao tentar utilizar o site da Caixa econômica Federal para consultar o nome das pessoas que recebem o benefício, como alardeado pelo site, o mesmo travou. Pediu informações extras, sendo que todos os campos ( dois ) haviam sido preenchidos

Baixei em PDF o relatório PRESTAÇÃO DE CONTAS ORDINÁRIAS ANUAL - RELATÓRIO DE GESTÃO – 2012, para que a leitura e interpretação fosse gradual e prazeirosa. De fato, muitas informações deixam um sentimento de puro orgulho, ao saber que valores significativos são repassados ‘as populações mais carentes do Brasil. Mais de 50% se encontrando no nordeste. Ainda são beneficiados os Índios, os Quilombolas, os moradores de rua, os recém assentados, ciganos e outros, cada um com suas necessidades especiais explicadas e quantificadas. . Algumas informações, como a o índice de 40% de redução da extrema pobreza, devem ser melhor explicados. A extrema pobreza diminuiu 40% somente para a faixa etária de 6 anos, onde se encontra um ‘vale’ no gráfico. O texto mais correto talvez fosse ‘ a pobreza extrema diminuiu ATÉ 40%, como mostra o gráfico ‘, e não ‘... seu impacto reduziu a extrema pobreza em 40%, conforme demonstra a figura abaixo’ Na verdade, aos 70 anos, a mudança foi zero.

              O relatório explica também a forma de distribuição para cada estado e as condicionantes para entrar no programa. Cada estado adequou programas próprios de inclusão social ao programa do governo Federal, completando os valores recebidos ou criando condicionantes especiais para o recebimento. De todos os estados, o único a não aderir ao programa até o final de 2012 era o Amapá, que teve dificuldades extras, já que considerava o seu programa específico tão bom ou melhor que o Federal. Todos os mais de 5000 municípios do Brasil, com toda a sua pluralidade, participam deste programa, que, salvo casos específicos – e existem vários – determina o pagamento de R$ 70,00/membro  da família, enquanto as condicionantes forem atendidas. Ainda há um dado curioso. Cerca de 21,9% dos cadastrados recebem via banco, diretamente em suas contas correntes.
              Das 21 milhões de famílias de baixa renda identificadas, 13,8 milhões são atendidas pelo programa, gerando um gasto anual de aproximadamente 3,86 bilhões de reais. O restante não atendeu ou até desatendeu as condicionantes do programa.
Quem, se considerando humano, e vendo e vivendo as desigualdades que o mundo pode gerar, teria o descalabro de ser contra? Somente incautos, desavisados ou ignorantes. O problema, entretanto, são os desdobramentos. Não o programa em si. Através do assistencialismo sem fim, vemos brotar diversos outros problemas. São notórios os casos de desvios, apesar da vontade de não deixá-los acontecer; Criamos pessoas, que não têm cultura para entender que o objetivo é a inclusão social, e não a esmola; E temos o mais grave de todos que é a formação de currais eleitorais.
              Se nosso voto fosse facultativo, talvez o problema não fosse tão grande. Se o dinheiro não fosse um fato tão importante também. Ma o Bolsa-família, cria uma espécie de muleta para os assistidos e tapete para os beneficiados ( políticos ). Todas as sujeiras são varridas para debaixo do tapete do bolsa-família.
As pressões ocorrem de todo lado e assim, vemos a real dimensão do problema criado. Até os terceirizados da caixa, os lotéricos, prometem greve para o período eleitoral, valendo-se da sua importância na distribuição dos benefícios. A oposição, apesar de ter conhecimento do problema, não pode atacá-lo, sem gerar um outro maior, o das pessoas com medo de o programa acabar. Um boato outro dia levou diversas pessoas ‘as agências, com o intuito de sacar a “última “ parcela.
Uma juíza, dia atrás, num momento de lucidez, deu entrevistas criticando o programa e incentivando, não o seu fim, mas o estabelecimento de regras para cercear o direito de votar daqueles que o recebem. Na verdade, não há estudos claros sobre a quantidade de pessoas em idade de votar que estão inscritos no programa, então vale fazer conjecturas.
Imaginemos que o programa, com cerca de 13,8 milhões de famílias atendidas em 2012, seja composto por uma média de 4 integrantes/família. Seriam no total 55,2 milhões de pessoas. O Brasil contava, no início de 2013 com uma população de 201.032.714, sendo 140.646.446 votantes, ou 69,97% do total. Aplicando-se este mesmo índice ao total de 55,2 milhões de integrantes do programa – por baixo – temos 38,72 milhões de votantes. Este número é simplesmente maior que a soma de toda a população de Minas Gerais – aproximadamente 20 milhões – e do Rio de Janeiro – cerca de 16 milhões. Também representa cerca de 27% de todo o eleitorado brasileiro, considerando aí, até 5% de margem de erro para cima ou para baixo, já que os dados não são de datas exatamente iguais, apesar de próximas.
Não há como admitir, então, que o programa é louvável e importante, mas não pode ser utilizado de forma eleitoreira. O próximo governante deve ser impelido, a despeito dos interesses políticos envolvidos a soltar as amarras. Primeiro criando as condições para as pessoas não apenas entrar, mas o mais importante, SAIR do programa, com dignidade e colocação, seja através de capacitação, reassentamento, deslocamento, reurbanização de favelas, retirada de moradores de rua, ou outros programas, que se não existem, devem ser criados. Devemos, como sociedade, bancar uma transição, não institucionalizar a esmola. Além disso, sou a favor destes incluídos não poder votar. Mas não por convicção, por falta de opção.
Opinião na História!!

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